Aqui
faço um alongamento que não dou conta e distendo os músculos. Doem-me os
tendões. Por aí distendem as palavras com hifens, pontos, parênteses e espaços.
Doem-me os nervos.
É algo muito em voga por parte de
(pre)tensos poetas: pegam uma palavra, decepam ela de uma ou outra de suas
sílabas, escrevem ela assim partida, um termo seguido do outro, e com isso dão
a essa palavra outros sentidos... Às vezes, depois de bancar o açougueiro,
colocam um termo abaixo do outro e essa sequência forma um pequeno texto, ele
dotado como um todo de um outro sentido... Pra mim, são in-flamadas distensões...
Aqui um exemplo de cortar os pulsos:
Expulso
Ex...Pulso
Pulso
Ou então:
Não
entendes o que desejo, é a minha intenção...
Não vês
aqui dentro, qual minha in-tensão...
Já vi muito em assinatura de emails
– ao invés de “Até a próxima! Abraços!”
escrevem tão poeticamente “Até a próxima!
Há braços!”. Nossa, genial! Separou a palavra e criou outras duas, de modo
que nós ouvimos o mesmo som, “abraços!” e assim uma despedida, mas “vemos”
outra imagem, e uma imagem abstrata!, olha!, não necessariamente de braços
literalmente, mas por metonímia: braços, força, disponibilidade, ajuda e
correlatos.
Já vi receita para a dor nossa de
cada dia:
Dor?
Ação!
Doação,
Doa ação...
Já vi um aforismo à moda hippie:
Eternamente,
éter na mente...
Já vi um cheguevariando Darwin:
Viva à
(r)evolução!
Já vi trocadilho espertinho... e que
não diz nada:
Separa-se...
Para-se para separar. Se para, para separar se para.
Já vi escárnio, talvez inspirado no
Viramundo de Fernando Sabino:
Mentecapto,
tua mente eu capto.
Ou ainda um pequeno absurdo:
Católico
Cat-ólico
Gato
Alcoólico
Real-mente poetis-ações sofis-sticadas! Estou im-pressionado! Devo dizer que sua escrita é bem re-finada.
Não é poesia, são recursos poéticos
para dar um toque especial no meu texto. Não posso? Ou não, é poesia sim, não
tenho liberdade poética? O texto não é meu?
Claro que pode, feliz.mente não há nenhuma lei
proibindo. Liberdade poética? Às vezes temos. O papel em branco é seu, a caneta
é sua. Só não fique se achando “O artista” quando fizer tão óbvia poesia. É
difícil ser o Paulo Leminski, é difícil fazer arte. A Arte não é óbvia, mesmo
que com ela vejamos algo muito familiar.