24 outubro 2016

Sentido da vida

      A palavra “sentido” felizmente tem dois sentidos: “significado” e “direção”. Acho que uma das perguntas mais sem resposta é aquela “Qual é o sentido da vida?”. Bem, é sem resposta quando você procura por um significado da vida. Qual é o significado da vida? Acho difícil porque o significado é uma outra coisa, paralela, que representa, que pode ficar no lugar do que ele, o significado, justamente significa. “Qual o significado da palavra ‘girassol’? É essa outra coisa aqui que eu vejo, que é amarela e marrom, aqui plantada na terra.” 
  O significado da vida... O que é essa outra coisa que representa a vida? Muitos dão as suas respostas, falando de coisas muito profundas e pouco claras, coisas impalpáveis e muito distantes, respostas tão arbitrárias e próprias quanto são as suas vidas. 
  Qual é o significado da minha vida? Eu não sei, porque eu simplesmente a vivo. O significado da minha vida é vivê-la, viver a minha e não a de outra pessoa. Viver, tão cheio de potencialidades e ao mesmo tempo tão frágil, é o que me resta fazer, pois este corpo vivo sou eu.
  Viver, sim... mas “Como viver?”. Por isso talvez seja mais produtivo se eu me perguntar pelo “sentido da vida” entendendo o sentido como “direção”... tal como a gente perguntaria “Qual o sentido dessa estrada, qual é o rumo dela?”. Escolher um rumo também não é fácil, mas é coisa que dá para ser feita abrindo os olhos e olhando ao redor. Ou, se a estrada está muito incerta, procurando dicas em mapas ou pistas com os outros. Por isso eu não me escavo pelas profundezas do meu ser. Não faço mineração para encontrar o tal sentido oculto da vida, nesse claustrofóbico empenho de buscar algo escondido sob a lama do passado. 
  Como o mestre Caeiro, sou andarilho. Prefiro ver o que tenho agora e caminhar adiante de olhos abertos. Quando quero ver o sol nascer, me volto para o leste, e ele brilha de manhã. Quando não, me volto para oeste e vejo o vermelho do poente. À noite, porque há sempre momentos de escuridão, olho o Cruzeiro do Sul ao sul e sigo, e se quero um norte, sei que o sul não é o que quero, e não paro de caminhar e tento ver o que tenho ao redor. Minha vida é trilhar, meu sentido é o horizonte.

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