Ela é a mãe dos pesadelos sonhados
- desses que a gente acordado sonha -
e é filha dos pesadelos vividos
- desses que a gente sonha nunca viver
mas vive,
deles não acorda
- desses que a gente acordado sonha -
e é filha dos pesadelos vividos
- desses que a gente sonha nunca viver
mas vive,
deles não acorda
e de olhos primeiro vidrados e depois baquiados não para de ver.
Ela de nós não se cansa
e de cima nem de dentro não sai,
mesmo a gente dizendo pra ela ir embora
e de cima nem de dentro não sai,
mesmo a gente dizendo pra ela ir embora
porque já não aguentamos mais
e só duas simples coisas queremos:
dormir e esquecer
dormir e esquecer
dormir e esquecer.
dormir e esquecer
dormir e esquecer
dormir e esquecer.
Ela é surda e não para de falar
de falar e repetir
de repetir e remoer
de remoer e ruminar
de ruminar e relembrar
daquele lugar e daquele momento que já estamos
exaustos, enjoados e viciados em revisitar:
os nós em nós mesmos,
de falar e repetir
de repetir e remoer
de remoer e ruminar
de ruminar e relembrar
daquele lugar e daquele momento que já estamos
exaustos, enjoados e viciados em revisitar:
os nós em nós mesmos,
as derrotas, os defeitos, os desejos,
os despejos e foras levados,
os orgulhos idiotas e defensivos,
os orgulhos idiotas e defensivos,
as ratadas, as patadas e covardias,
os socos que queria ter dado,
e todos os chutes e tapas,
os socos que queria ter dado,
e todos os chutes e tapas,
empurrões e rasteiras recebidos
alguns com juros e outros tantos gratuitamente
alguns com juros e outros tantos gratuitamente
Ela não se cansa de nos cansar e sugar e caçar
sempre atrás, sempre aqui, sem sair
nem de cima, nem de trás, nem de dentro,
sem deixar que façamos duas coisas tão simples e tão naturais
que deveria ser crime ela não nos deixar
dormir e esquecer
dormir e esquecer
dormir e esquecer
dormir e esquecer
só isso, pelo menos isso,
dormir e esquecer
só isso, pelo menos isso,
nada mais do que isso:
dormir e esquecer...