27 julho 2021

Dormir e esquecer

Ela é a mãe dos pesadelos sonhados
 - desses que a gente acordado sonha  - 
e é filha dos pesadelos vividos
- desses que a gente sonha nunca viver
mas vive,
deles não acorda
e de olhos primeiro vidrados e depois baquiados não para de ver.

Ela de nós não se cansa 
e de cima nem de dentro não sai,
mesmo a gente dizendo pra ela ir embora 
porque já não aguentamos mais

e só duas simples coisas queremos:
dormir e esquecer
dormir e esquecer
dormir e esquecer.

Ela é surda e não para de falar
de falar e repetir
de repetir e remoer
de remoer e ruminar
de ruminar e relembrar
daquele lugar e daquele momento que já estamos 
exaustos, enjoados e viciados em revisitar:
os nós em nós mesmos, 
as derrotas, os defeitos, os desejos, 
os despejos e foras levados, 
os orgulhos idiotas e defensivos, 
as ratadas, as patadas e covardias,
os socos que queria ter dado,
e todos os chutes e tapas, 
empurrões e rasteiras recebidos 
alguns com juros e outros tantos gratuitamente

Ela não se cansa de nos cansar e sugar e caçar 
sempre atrás, sempre aqui, sem sair
nem de cima, nem de trás, nem de dentro, 
sem deixar que façamos duas coisas tão simples e tão naturais 
que deveria ser crime ela não nos deixar
dormir e esquecer
dormir e esquecer
dormir e esquecer
só isso, pelo menos isso, 
nada mais do que isso: 
dormir e esquecer...


12 julho 2021

Os girassóis já morreram

Os girassóis já morreram

Já não mais giram 

E o sol de leste a oeste segue.


As sementes pelo solo se espalharam.

A chuva um dia vem.


Antes de morrer, semearam.

Viverão.