04 março 2020

Assim é ela

Ela é dessas que nunca tem hora certa para chegar
Mas sempre chega cronometricamente pontual.
Às vezes, ela se anuncia com muita antecedência
Mas, na maioria das vezes, chega sem qualquer aviso
É uma amante que vem sem a gente saber
Se logo se vai ou se eternamente fica
Se só passa uma noite ou se conosco se casa até que
Ela mesma se separe.

Sonhamos com ela e acordamos chorando.
Às vezes, chorando, com ela sonhamos
Querendo que ela nos dê o seu amor que ninguém quer
E que nós mesmos não queremos.

Ela também não para e não pede licença,
Mas até que sabe esperar...
Tem uma paciência que parece perpétua
Até que chega um dia metendo o pé na porta,
Grita seu nome, entra derrubando tudo
E te derruba
E quando não espera
Entra calada, quebra suas pernas e sai muda
Muda
Como a nossa própria imagem no espelho

Ela é obscena,
Não tem limites, não tem vergonha
Não tem qualquer senso de etiqueta
Tem uma fome que não acaba,
Que só aumenta,
Porque nós a alimentamos e o seu estômago é imensuravelmente
um
poço
sem
fundo
que muitas vezes nós mesmos cavamos.

Quando à nossa mesa se senta,
Ela fala de boca cheia,
Come a grandes garfadas e se arreganha
Nos faz virar a cara, cobrir os olhos,
Virar do avesso (ela é o avesso)
E quando inevitavelmente a gente a olha
É uma santa
Que nos arrebata, nos arregaça
E nos arrebanha
E nos faz de palco, ator, diretor e cena

Assim é ela.

02 março 2020

A palavra matemágica

0 vezes eu disse, mas
1.000 vezes eu quis dizer:
10.000 amores não são maiores que o um amor de nós dois. Se
1 vez agora eu disse, queria então uma palavra matemágica que
1.000 vezes multiplicasse essa
1 vez, e assim realizasse o que
0 vezes eu havia dito.