11 janeiro 2021

Estupor

Você sabe:
Não estou imune a seus efeitos:
Brinquedos pútridos cheirando a gala

Há tanto tempo que eu trafego
Com essas blindagens grossas feitas de não:
(“Não há mal nenhum”; “Não passa de uma brincadeira”; “Não estou te usando”)
Não preciso de ajuda

Há tanto peso que eu desprezo:
O teu estupro sobre minha pequena boca
(Reforçada a calar, afinal, é feio falar de boca cheia...)
E o meu estupor sob minhas largas retinas serradas
Vertendo hemorragia sob minhas pálpebras em comportas cerradas

O que me deixou por tantos anos largado
Alargado tateando solo uma solução:
A dissolução dos teus efeitos, do que trafego e do que desprezo.
E eu sei:
Você não está imune à minha causa.
Você sabe e eu sei.