no inverno frio vem

no inverno frio vem 

quero fazer um verão contigo

sim... vai chover tanto 

mas eu me pergunto

como amar assim bem muito

sem sair todo ralado? 

não sei

nas horas boas vou me ferindo

e eu nem sinto

vamos vamos

e um verão depois

eu vejo que já me rasguei

por que contigo é tão gostoso assim?
tão gostoso assim que eu nem sinto
que eu nem sinto as feridas que eu me faço
que eu mesmo faço no verão contigo
no verão contigo quando eu me rasgo

minha pele é flor?
me rasgando contigo
à flor da pele?

e se for?

vem ser meu castigo

me rasga todo

me joga na água

me ferve

toma banho comigo

no inverno frio vem

vem ser meu castigo

minha pele é flor

me rasga me ferve

toma banho comigo

quem era ela?

ela tinha uns olhos arregalados
que pareciam ser olhos pesados

pesados olhos de insônia

crispados olhos 

emoldurados de desejo e frustração

suas mãos tremiam balançando 

as taças de vinho engolidas

em frente a um grande espelho 

vazio

em que ela mesmo não se via

tendo diante de si outra pessoa

um velho moço... 

e tão... 

familiar... 

que ela... 

então... 

não reconhecia

quem eram eles senão a sua própria família?

quem era ela que tanto sozinha bebia?

quem era ele que na imagem do espelho sumia?

quem era ela que na própria pele não mais cabia?

quem eram esses embriagados de agonia?

por que subitamente ficou tão agoniada?

incomodada com a barba que lhe surgiu na cara

confundida se era meia noite ou meio dia

e perdida sobre de que lado da ponte estava

se do lado da morte ou da vida

estranhada sob a capa que vestia

se era roupa de sair ou de ficar em casa

esquecida de qual era mesmo seu endereço

não lembrando mais onde morava

nem por que tinha saído ou aqui... lá chegado

ou qual era a hora de voltar em casa

quem era? 

Óia ela

filho! ela quer falar contigo 
quem? ela é a mãe dos nove filhos
ela é quem se veste de vermelho
seja de noite, seja de dia

ela embraza veloz com o vento

é óleo fervendo em água fria

óia ela é Oyá

óia ela

óia ela é Oyá

óia ela

óia ela é Oyá

óia ela

óia ela é Oyá

óia ela

óia ela é Oyá

me esqueci de sair

é...
me esqueci de sair

foi...

sim, moça, eu sei

você está aqui comigo

desde o dia que eu me desamarrei

me abri todo e disse 

vem

e tu dançou comigo

me esqueci de sair de ti

foi...

foi sim... ainda estou aqui

desde o dia que eu te senti

pronto pra mim 

pra receber o meu toque

digno de mim

fui sim, vim

você tava tão sozim

você cantou pra mim e eu escutei

ouvi que eu tinha um sorriso secreto 

que só eu sabia usar contigo

te abracei por trás, te embalei

e fiquei por aqui

do Pôr do Sol ao Alvorecer

cheirei tua cabeça 

e gostei

perfume nas ideias você tem

me esqueci de sair... foi

é porque a porta tu não se esquece

de deixar aberta

e venho nesse entra e sai

quando a ti e a mim nos apetece

pedimos licença um pro outro

pra então assim dançar juntinhos

e eu te conduzo 

e tu responde bem comigo

tu canta 

bons vários cantos

e eu encanto 

teus vários sonhos

sou tua maestra

te levo leve 

com a ponta dos meus dedos

te balanço bambo 

com o jogar dos meus cabelos

e tu sorri

e eu te vejo

e tu sorri

e eu te vejo

deixa a porta aberta

que eu não te deixo

já te vejo muito bem

ainda me pego 

lembrando do nosso tempo

ainda me vejo 

dançando na sua cama

porém

sua imagem é um porém

passada... já foi meu bem

já toda borrada vem
não vejo mais direito 

como era a sua cara
nem seu corpo
nem sua pegada

você já se esfumaça
e isso é bom demais

sua cara borrada

não me engano mais

maquiagem passada

não me engano mais

não me engano mais
com as lembranças

que você me deu

imagem tão borrada

já te vejo muito bem

já ficou pra trás

já ficou pra trás

quem não tem nada a dizer

já virou piada

quem só diz nada com nada

já se desmanchou

a ponte entre eu e você

já ficou pra trás

o amor não é troca passageira

amizade não se levanta de rasteira

cobra venenosa se esconde na poeira

capoeira é molejo

voa linda a andorinha

tartaruga é paciência 

dança lento na pracinha

justiça vem

então confia

quem tem saldo tem

voa longe e vai embora

e volta bem

quando vem visitar a família

quem tem dívida chora

pro começo sempre volta 

acha que partiu 

mas não saiu donde parou 

amarga então essa revolta

já ficou pra trás

quem não tem nada a dizer

já virou piada

quem só diz nada com nada

já se desmanchou

a ponte entre eu e você

já ficou pra trás

o frio passa

primavera chega um dia 

amizade fica

estendida a mão na praça

roupa branca estendida no varal

cheira alfazema espalhada no quintal