sobre esse presente mofado chamado Romantismo

escuta aqui menina nova
ouve essa moça velha
já abusada
que atravessou muitas encruzilhadas
e sangrou de um útero vazio
já por incontáveis Luas
Cheias e Novas
e renovadas

o Romantismo é simplesmente um presente de grego...
um Cavalo de Troia que é muito lindo por fora
porém que leva na barriga, escondidos
aqueles que irão nos invadir e fuder completamente
por trás e pela frente

o Romantismo é esse presente mofado
de um passado deixado 

pelos nossos pais, e avôs, e bisavôs, e tataravôs, 

e todo o resto dessa corja de velhos engessados
sentados em tronos 

feitos dos ossos de todas nós que eles usaram

e depois de já tão gastas
então jogaram fora
como um objeto que sempre fomos
a servir apenas de
quadril pra parir
tetas pra amamentar
mãos pra dizer sim
pernas pra fugir
e jamais pra bater de frente 

nem dizer não 

nem lutar

o Romantismo é a reza profana que se prega
quando se é obrigada a engolir o pau de cada dia
e se engasga com a baba fedida
e ainda por cima agradecendo
sorrisinho fofo na cara
dizendo amém ao Deus barbudo, teimoso e branco
"obrigado, oh Senhor, pelo macho que nos assegura"

esse que só nos quer sempre 

quando e somente se 

formos essa bestinha frágil e imatura

caladinha, olhinhos baixos e de rabinho entre as pernas
quando no fundo escondemos garras e presas
e uma voracidade de setenta e sete feras

o Romantismo é uma arapuca!
a declaração de amor único e eterno é uma isca!
e o caralho carnudo é o anzol cabeçudo que entra fácil e liso...
e que então te arrasta pra onde a vara grossa quiser te levar!

e não te larga nunca mais...

a não ser que você arranque um pedaço de si mesma 

e quase morra de tanto sangrar...

não aceite

te levanta

bate no peito

grita

segue a tua vida

minha irmã

romântico é o sentimento dos que confundem

Amar com Possuir
Querer com Controlar
Desejar com Consumir
Cuidar com Aprisionar

romantismo é o instrumento dos que desejam

Cuidar pra Aprisionar 
Desejar pra Consumir
Querer pra Controlar
Possuir pra exercer Poder

e confundir Poder com o ato de Amar
amar um belo e fantasioso Amor 

pra te levar a amar toda essa escrota toxicidade

para e ouve

vou te contar uma história:

o amor romântico é a herança do colonizador
do latifundiário explorador 

preguiçoso, porco inútil e imundo
que te seduz 

e te dá de presente uma algema de aço banhada a ouro...

e não estranhe 

quando ele mandar você mudar até o seu nome 

pra carregar a marca dele no seu corpo
afinal
gado é pra levar a marcação do dono mesmo

e nenhum vagabundo mexer com o que é seu...

acontece que a mentalidade de um escravagista
é assim...
não sabe dar laços
só sabe exigir nós


#sonsofVmbrA

ontem eu me calei, hoje eu não me calo

o meu amor sempre será muito maior 

do que o seu ódio jamais será

a minha generosidade sempre será muito maior
do que o seu isolamento orgulhoso

o meu sorriso irá sempre brilhar muito mais solto
do que todo o teu palavreado barroco

a minha sinceridade impulsiva e desbocada 

sempre vai mostrar como é moldada 

essa tua educação de máscaras

na minha mão direita porto meu afiado Alvorecer
feito do aço forte forjado 

pelas porradas do destino
que me dá a coragem para enxergar e ver
os meus desaforos 

e os meus próprios desatinos
luz que eu brilho e que sempre irá mostrar 

o teu tamanho verdadeiro

que não passa de um pequeno, 

assustado, sozinho, ferido e amargo
menino

veremos todos como a tua generosidade 

não passa de um mínimo
será revelado como o teu sorriso 

é um intrincado ornamento de ouro: 

raro, amarelo e artificial

ficará às claras 

para quem tiver olhos de ver 

como o teu amor é um milagre 

que jamais aconteceu

mas foi representado
no teu teatrinho de sombras

brincando de amar com chantagens suicidas

seguindo a burrice muito linda

e desnecessária

do amor de Julieta e de Romeu

e você bem que gostaria 

mas jamais irá ver o dia da sua beatificação
o teu nome nunca será louvado
mas sim apenas cuspido e vomitado

pois tu, moleque, é o primeiro a dar o exemplo
de só saber vomitar ódio e impaciência
correr, correr e queimar as pontes por onde passa

falar, falar, falar dez mil palavras complicadas
que todas juntas e espremidas 

não querem dizer porra nenhuma
mas tentam ensinar sempre 

que somos nós quem não sabe de nada
e que o senhor é o grande detentor 

de toda a luz e de todo o calor

e nos trata como loucas 

quando temos a ousadia de questionar 

o por quê dos seus por quês
e pra se defender
tão frágil e assustadiço
menino ouriço
tu nos violenta com a educação 

de uma excelentíssima santidade

oh mestre, oh ilustríssimo mestre
professor da cortina de fumaça
nós somos velhas moças 

já muito bem temperadas, desiludidas
e cansadas

cansadas
de todas as tuas aulas práticas 

naquilo que tu, oh sumidade, é muito mestre:
a de cagar pela boca a bosta 

da tua preciosa subjetividade
que vem banhada pelo perfume 

da tua azeda passivo-agressividade

ontem eu me calei
hoje eu não me calo


#sonsofVmbrA