25 fevereiro 2020

Distâncias

“Tá quente hoje né?” – perguntar
Conversa pública em rede social
Um sexo casual transar
Amizade de Carnaval
Papo de mesa de bar
Dos outros falar mal
Natal com a família toda jantar
Atendimento médico no hospital

Escrever uma carta à mão...
Secar à dois uma garrafa de vinho...
Beijar na despedida...
Abraçar encostando a cintura...
Falar baixinho no ouvido...
Sorrir sem dizer mais nada...
Olhar no olho longa e lentamente...
Entrelaçar as mãos em silêncio...

14 fevereiro 2020

Ela é assim

Ela é assim
Uma sucessão de cenas explícitas
Porque ela não tem pudor
Não aceita indicação de idade
Não respeita nossa censura

O que são planos diante dela?
Castelos de cartas
Pegadas na areia
Um fósforo aceso

Ela simplesmente adora rasgar os nossos mapas
E mapear todos os nossos erros
E borrar todos os nossos desejos
E nos fazer nos caçar nos espelhos
Por não sabermos mais quem vemos

Com ela não adianta falar
Argumentos? Não
Palavras de ordem? Nada
Lamentos? Fica à vontade, pode chorar
Ela não tem pena
Não há lei que a obrigue
A não ser a que é ditada por ela mesma
Não adianta promessas com ela
Ela é aquilo que só te resta aceitar

Ela dança e a música é seu próprio canto
Ela é quem puxa os passos e quem marca o tempo
Ela dança
E nos arrasta
Sobre esse palco arbitrário também feito dela mesma
E é pior se nos recusamos acompanhar

Ela não para
Não espera
Não tem paciência
E jamais, nunca pede licença

Ela passa, sempre passa
Pode ser hoje ou daqui a 100 anos
Mas ela sempre vai passar
E tudo o que permanece
É o que fizemos dela.

13 fevereiro 2020

Nunca choramos em vão

Nunca choramos em vão
Não amamos com pressa
Nem nos esquecemos

Somos esses mesmos
Que nos levantamos
Selvagemente
Despreparados para o dia

Rimos sobre nossas feridas
Enquanto nossas lágrimas regam
Nossas alegrias
Tragicomicamente abraçados
Somos esses que choramos
Mas nunca em vão.

Reticências XIII

Se o amor fosse feito só de palavras,
Os poetas seriam as pessoas mais felizes do mundo,
O mundo ainda teria todos os seus tratados de paz
E eu e você ainda estaríamos juntos.

Que é o amor sem a nossa presença?
Não acredito na romântica crença
Do amor em falta,
Dos parceiros em prantos,
No conflito, na distância.
Dois desconhecidos não se amam,
Só se estranham.
Dois estranhos só se enganam,
Não se entranham.
São tramas que não se cruzam,
Nós frouxos, corda bamba.

Nossa história parecia muito profunda,
Mas nela, feito crianças, apenas nadamos no raso.
Dissemos adeus em silêncio
Afastando-nos com desculpas esfarrapadas,
Deixando em farrapos as almas, que não temos,
E um no outro caímos em esquecimento.

Nessa vida longa, o tempo passa sem espera.
Esperei.

Mais dez mil dias de desencontros
Desenganos
Meus enganos
Por te confiar minha carne
Por te entregar os meus desejos
E porfiar os meus segredos
Mas tudo não passou de palavras... só
E nenhum amor.
...
...
...
...Pois receba aqui o meu ponto final.