pra te enterrar
muito novo
não foi você quem pediu pra te ajudarmos nessa empreitada?
não era você quem buscava voltar para uma nova casa?
você se enfiou, criança, nessa cova
nada rasa
lá embaixo, silenciosa, abafada
abafando todos os barulhos
abafando todos os burilados
abafando todos os benefícios
os teus e os de quem visse a tua tensa e contraída cara
você me perguntou
lá embaixo, silenciosa, abafada
abafando todos os barulhos
abafando todos os burilados
abafando todos os benefícios
os teus e os de quem visse a tua tensa e contraída cara
você me perguntou
mas quem iria dar atenção a essa criança tosca e tão bem comportada?
e a si se enterrou...
a vida é mesmo engraçada
pois foi encarar de frente a morte o que te tirou daquele buraco
era afogar-se ou sair de lá
teus olhos chuvosos realmente fizeram uma grande temporada
naquele temporal das nossas feridas abertas
atemporais
teu Eu será para sempre o teu trauma?
eis o Sol agora
os girassóis voltaram a girar
tu enfim enxerga o nosso rosto
que bom te ver respirar um ar fresco aqui fora
tu
ainda se lembra como é sorrir do teu próprio jeitinho?
tudo bem... podemos ir devagarinho
me permito ser velha, desbocada e amarga
e tu pode ser menino, quietinho e doce
saiba que continuo aqui contigo
pronta pra te amar