sempre chovem

os olhos sempre chovem

naqueles que escolheram

seguir o caminho heremita
dos heréticos

dos herméticos
e dos que não praticam hipocrisias

os olhos sempre chovem
quando a gente mostra na pele
quem a gente quer ser

e se dispõe pagar o preço

do isolamento
pra sentir conectar-se muito mais

a si

e você me coloca aqui
minha própria juíza
meu próprio juízo
minha própria ousadia
meu próprio laço

meu próprio passo
minha própria harmonia

os olhos sempre chovem

vou vendo que vida de sentir tudo muito e mais um pouco

é assim

os olhos sempre chovem

vida de chuva

sopa requentada

e de cama fria

vida de vaia

vida de sentir a casa vazia

preenchida pelos medos

chamados, sussurros

segredos

ecoando o desprezo

ecoando o desprezo

ecoando

o estranhamento alheio

e os meus olhos escoando

os olhos sempre chovem

qual é o remédio pra solidão?

me diz minha moça

me diz
qual é o remédio pra solidão
como é que se conecta
sozim
em meio à multidão

me diz minha moça
me diz
qual é o remédio
qual a solução
me diz o que eu faço
pra me transportar

pro meio da multidão

me diz minha moça
me diz

quero te ouvir  
qual é o remédio 

pra quem se sente só

e sigo sozim
sigo sim
só caminhar
porque eu sei que
no meu lá
que é o teu cá
nós vamo juntim...

e no meu lá

que é o teu cá
nós vamo juntim

e no meu lá

que é o teu cá
nós vamo juntim

me diz minha moça

me diz

lá se vai a Lua Nova

segue... segue... a tua estrada

Lua Nova a te levar

levar de volta pra tua casa

teu caminho te apontar

fecha os olhos, criança

pra tu ver tua própria chama

abre os olhos, criança

pra enxergar as tuas sombras

fecha a boca, criança

ouve bem ao teu redor

apura os ouvidos, criança

tua sabedoria vai falar

é no silêncio 

que tu sente seu próprio canto

e no seu canto 

vou te ajudar a dizer 

o que todos querem dizer

mas ninguém tem coragem

de declarar

segue... segue... a tua estrada

Lua Nova a te levar

levar de volta pra tua casa

teu caminho te apontar

gira gira a Lua Nova

aquela moça braba

gira gira a Lua Nova

que nunca baixou a cabeça 

gira gira a Lua Nova

uma princesa feiticeira

gira gira a Lua Nova

vestida de roseira

uma caveira perfumada 

seu coração uma lareira

segue... segue... a tua estrada

Lua Nova a te levar

levar de volta pra tua casa

teu caminho te apontar

lá se vai a Lua Nova

a amiga dos perdidos

sua correria ela faz nas sombras

do Pôr do Sol 

ao Alvorecer

luz das estrelas pra um norte 

a gente se encontrar

lá se vai a Lua Nova

na Imensidão

sempre a girar

já não sei mais se eu vou hoje na terapia...

e eu acordo

já não sei mais se eu vou hoje na terapia...

mas vou

e então

minha terapeuta me dá um soco no estômago

bem de repente

me curvo de dor e de falta de ar
fico tentando entender 

se isso é uma metáfora 

ou se é pra ser literal

daí tomei outro na lateral 

da cara já bem molhada

de sangue e de lágrimas

e eu dei risada

sem acreditar

e eu acordo

já não sei mais se eu vou hoje na terapia...

mas vou

e então

levo pra terapeuta esse sonho absurdo

que terminou bem na hora 

que eu tinha entendido não sei o quê

e pra eu ficar ainda mais confuso
ela se levanta e diz pra eu fechar os olhos

e respirar bem fundo

então me dá um tapa tão forte 

que na mesma hora 

eu acordei de novo
caindo da cama

chego nela de novo

hoje é dia de ir na terapia
que porra é essa doutora?!

porque eu tô sonhando que eu tô sonhando? 

e ainda sonhando tomando porrada?!

e ela me responde pulando pra cima 

me agarrando pelo pescoço

como é que essas mãos tão finas

conseguem ter tanta força?
tô perdendo o chão

visão ficando escura

ela me olha serena

e me esganando todo torto

veja, esse é o pior jeito pra se matar galinha...

prestes quase a desmaiar
eu me pergunto
se isso é outro sonho
ou se ela vai mesmo me matar

que porra é essa doutora?

eu penso
quando é que esse pesadelo vai ter fim?
e ela me responde me jogando pela janela

e eu vejo meu corpo sentado na poltrona

enquanto eu me esbagaço na calçada

acordei

caído na frente da porta de casa

já não sei mais se eu vou hoje na terapia...

eu penso

mas vou...

quando a Bruxa me dispensou

me ajuda a entender os mistérios dos teus sumiços
quando me enche de perguntas

e depois me deixa sem respostas
me explica vai

por que tu me encaixa bem juntinho
dos teus olhos

os dois 

brilhando em meio às sombras
e me deixa provar dos teus doces
caóticos
e me faz rir junto com tua gargalhada

chama

balança
quero te ver dançando

na ponta da minha vela

vermelha

dourada
feiticeira

eu me estremeço lá e cá
no sabor do som dos teus feitiços

foi...

ela me ouviu cantar

dançou comigo

me deu um beijo

mas depois me dispensou...

e eu fiquei sem entender nada

ruminando as suas palavras

quando a gente girava

enquanto os santos perguntavam

"Consegue sentir? Consegue sentir o meu coração?"

e me traziam o horizonte

no fundo do meu poço

no fundo do meu poço
eu encontrei
um poço de oportunidades
foi o lugar onde eu
só
olhei pra cima

no fundo do meu poço
eu encontrei
três itens mágicos
um espelho
uma bússola
e um mapa

novo ponto
de partida
novo ponto
de vista
pra um novo ninho
pra uma nova estrada

novos pontos de referência
novos pontos de chegada
novas pontes
novas fontes
novas encruzilhadas

no fundo do meu poço
eu encontrei
um poço de oportunidades
é o lugar onde eu
só
olhei pra cima

no fundo do meu poço
eu encontrei
três itens mágicos
um espelho
uma bússola
e um mapa

agora é pra frente
agora é pra cima
porque
se eu fosse só
já não estaria mais aqui


#sonsofVmbrA

foi Exu quem te levou

eu convulsivei cantando em latim
clamando pros anjos
arrancar você de mim
e você não queria sair
cravou os seus dentes
no meu travesseiro
me fez visita de noite
nos meus pesadelos
e eu acordava bem na hora
que ia te matar

não
não adianta chorar
seus gritos exagerados
seguindo seu silêncio frio

não funcionam comigo

isso é coisa pra menino
só funciona com amadores
eu não
eu sou um velho marinheiro
muito bem temperado
e com muita preguiça
desse teu desesperado vazio

sai
sai daqui
eu já te enxerguei muito bem
por trás dessa máscara...

tudo o que você me deu

apodreceu, já se quebrou ou enferrujou

e aquilo que sobrou sem mofar

como aquelas suas cartas de amor

encontrou as chamas do meu candeeiro

suas lembrancinhas se contorceram

enquanto as labaredas as levavam

e eu rezava repetindo

um exorcismo

sai
sai daqui
eu já te enxerguei muito bem
por trás dessa máscara...

foi

você já se foi

e foi Exu quem te levou