29 abril 2022

agredir o agressor pt.1

sabe o que eu vim fazer aqui
minha senhora 
meu senhor
aliás, boa noite 
eu vim aqui 
pra agredir o agressor 

eu vim pra quebrar 
eu não vim pra pensar 
eu vim pra fazer
não vim pra tecer 
planos
eu vim pra executar
vamo

é...
chegou a hora de agredir o agressor
filho da puta manipulador
chegou a hora de arrancar as suas máscaras
e mostrar a sua cara por trás de tantas camadas
a cara, uma simples capa
estupefata de estúpida criança
porque eu sei que debaixo de tantas máscaras
se encolhe apenas um menininho 
medroso no canto

chegou a hora 
é
de derrubar o seu castelo de cartas

nós adestramos o lobo
enquanto tu aí brincava bobo
com as três porquinhas
que tu cevava para devorar no Natal

a nossa fera vai soprar 
e soprar e soprar e soprar 
e tu vai rir achando que está seguro
mal sabe ele que a criança que se tranca
um dia vai ficar com fome
e o lobo muito mais sedento
aqui fora aguarda
só esperando o comando
das verdadeiras feras
que amarão te destroçar
e tu irá gritar: "meu reino por um amigo!"
e teu choro irá ecoar no silêncio
por ter tratado todos como cavalo
e morrerá sozinho afogado
na poça de sangue
das veias abertas das tuas vítimas

hoje é o seu dia
filho da puta aproveitador 
vou fazer você chorar 
vai pedir misericórdia 
hoje tu vai sentir tristeza 
tu vai sentir
toda a nossa dor
porque hoje eu vim só pra uma coisa
hoje eu vim
pra agredir 
o agressor

frutífera fera infrutífera

tu é essa árvore que se espalha
de uma enorme sombra
que destrói toda a calçada
frutífera fera infrutífera
mas teus frutos são mofados
azedos e sem nenhum suco 

vou te podar radicalmente
pra eu poder finalmente
mostrar quem você é 
por baixo de toda essa folhagem
onde tu se esconde 
com teus espinhos tóxicos

eu não preciso mentir
nem preciso inventar
sobre você nada de mal
a tua difamação 
é tu mesmo quem faz

tua raiz faz um tempão
que já apodreceu
pra te derrubar 
num é difícil não
basta chegar perto e assoprar

cala essa boca e nos deixa em paz
volta pro buraco de onde tu saiu
frutífera fera infrutífera
pra te derrubar
basta chegar perto e assoprar
cai
some

28 abril 2022

No flow das mensagens futuras

no flow das mensagens futuras
eu vou buscando a minha cura
quero alcançar novos ares
e me lançar em novas alturas

o esforço é o que te tira do chão
mas é a constância o que te mantém no ar

aprendi a voar 
com o carcará
que pega, mata e come
respeitei meu nome
e a minha dor

eu vou cantar
liberar o fogo
soltar o ar
todo o calor

cortar as amarras da solidão
que me prendiam a você
e me mantinham longe de mim
longe de todos os outros
acabou o sufoco
acabou 
todo o desespero
fim do desamparo
chegou o sossego

vou dar um salto
bater as asas
subir no alto
voltar pra casa

aprendi a voar 
com o carcará
que pega, mata e come
respeitei meu nome
e a minha dor

refletir
me encarar de frente
tenho a consciência dos meus nãos?
digerir
aceitar e deixar pra lá
tenho eu a ciência dos meus sims?
já falei pra mim
eu não sigo mais sozim
mas eu vou por mim 
independente de quem
se preciso for
afinal
cada um só faz o próprio caminho

25 abril 2022

Lambada

Ela me testa
Não vem
Eu sei meu bem
que isso faz parte do jogo
de Paciência
Nele você pode ser a rainha
Mas eu sou o rei

Meu jogo é aberto 
Mesa de xadrez
Comigo não tem blefe
Quando você menos percebe eu te dou
Um xeque mate
Um xêro no teu pescoço
Um convite pro almoço
Pra você me conhecer

Vamos ali
Bater um papo
Em pé mesmo, cerveja na mão
No boteco, na calçada
Quando você viu 
Já me chamou pro seu quarto
Te dou um trato
Minha língua contigo dança lambada

Aqui jaz minha paciência

I

aqui jaz minha paciência
ela morreu
na mesa de jantar
não quero mais tua tristeza
então já chega
sou eu quem vou falar
 
porque eu só quero silêncio
só que tua voz eu só ouço
mesmo só
martelando enchendo
o buraco do meu ouvido
num murmúrio
não para
essa porra não para
de reclamar de tudo
 
minha caixa cheia
do teu som vazio
eu disse para agora
e repara nessa
olha essa toda tua
essa insegurança
isso é um puta de um
absurdo
 
você não tem rumo
é uma folha no vento
vontade à deriva
frágil navio
no mais completo escuro
ao sabor dos lamentos
 
II

acontece que
já não tenho mais idade pra te aguentar
e não tenho nem um pingo de saudade
aliás eu tenho
é do silêncio quando tu se esvai
já vai tarde
 
não cala a boca um minuto
mente turbilhão sem prumo
um coração muito obtuso
preocupações a bombear
inunda minha casa
me puxa pelos cantos e me afunda
não consigo respirar em paz

III

aqui jaz
minha paciência
ela morreu
na mesa de jantar
não quero mais tua tristeza
então já chega
sou eu quem vou falar
 
tudo o que eu sofri e o que me foi negado
tudo o que eu vivi e o que me foi calado
tudo o que aguentei e os sapos que engoli
tudo o que eu tive que descobrir...
sozinho
mesmo ao lado de tantos
 
toda a alienação que tu me deu
toda a repetição da tua arrogância
todos os atrasos que eu suportei
todos os prejuízos da tua ganância
todas tuas decisões
mal tomadas
todas as tuas despesas
que eu amarguei
sozinho
mesmo no meio de todos
 
aqui jaz
minha paciência
ela morreu
na mesa de jantar
não quero mais tua tristeza
então já chega
sou eu quem vou falar
 
IV

sai
sai de perto agora
se não quiser
se machucar
melhor manter
a distância
se não quiser
se machucar
vai bem pra longe
tranque bem a porta
se não quiser
se machucar
porque
morreu há muito tempo
aquele menininho
que você quase matou
de tanto dar porrada
 
agora segura
no colo vai a merda
que por nove meses tu gestou
e por nove anos não se cansou
de maltratar
 
e de tanto engolir tuas ameaças
morreu engasgado o nenenzinho
e nisso você chorou de medo
com o que iriam pensar de você

V

aqui jaz
minha paciência
ela morreu
na mesa de jantar
não quero mais tua tristeza
então já chega
sou eu quem vou falar
 
eu te olho nos olhos e vejo
somos efeitos do mesmo mal
os dois mortos por dentro
feitos do mesmo mineral
 
não tenho mais medo de ti
porque eu consigo ser
muito pior do que você
hoje tu me faz é rir
 
tuas merdas minhas merdas
tudo eu mando se fuder
não se assuste e não se engane
porque
da minha paciência
eu já fiz o funeral


Caos de bolso

eu vou agir
botar pra fuder
eu vou criar
o meu caos de bolso

cola comigo
presta atenção
sente os teus pés
tocar no chão
se abaixa agora
chegou a hora
da gente soltar
esse caos de bolso
então vai

nosso caos de bolso
nosso caos de bolso
nosso caos de bolso

vamo soltar
botar pra fora
chegou a hora
nosso caos de bolso
vamo soltar
botar pra fora
chegou a hora
nosso caos de bolso
nosso caos de bolso
nosso caos de bolso

se liga mermão
o bagulho é loko
eu vou soltar
o meu caos de bolso
botar pra fora
chegou a hora
esse furacão
o nosso caos de bolso

não mais aceitar
a corrupção
o vicioso ciclo
vamo quebrar
quebrar a máquina
da exploração

chegou a hora
botar pra fora
esse é o nosso caos
nosso caos de bolso

isso começa hoje
começa agora
olhando pra quem
tá do seu lado

a mudança é aqui 
(no peito)
a mudança é agora 
(na mente)
a mudança é em casa 
(com os seus)
a mudança é lá fora 
(com todos)

vamo botar pra fora
esse é o nosso caos
esse é nosso caos de bolso
quebrar as grades
esse é o nosso caos
esse é nosso caos de bolso
quebrar correntes
esse é o nosso caos
esse é nosso caos de bolso

esse é o nosso caos
é nosso caos
esse é o nosso caos
o nosso caos
de
bolso

Acorde

não vou deixar mais você
sozinha me acordar
que porra essa sai fora
não quero mais o seu
acorde
a me levantar só 
tão de madrugada

algumas coisas nunca mudam
assim parece
não vou mais me preocupar
eu vou guardar o meu próprio
acorde
pra poder eu mim mesmo
levantar
mas não parece assim tão fácil
eu sei
deixar as coisas mesmas rolar
só vou soltando o meu
acorde
pra poder eu mim mesmo
despertar

mi

vou acordar!

esse é o meu acorde


desatar os nós

ficar de pé
mi
criar raiz

então voar!
sol
o meu farol

o meu lugar
si
me conheci

fiquei de pé

não estou só

eu vou soltar
o meu acorde

eu vou soltar
o meu acorde

eu vou soltar
o meu acorde

e acabar de vez com essa porra de insônia


23 abril 2022

Tecla Esc

Peito anestesiado
Apertei a tecla Esc muito forte
Foi duas vezes
Eu falei: Eu não sou assim, Doutor
Eu disse: Doutor, esse não é o meu normal
Não tô acostumado a ficar indiferente


Não sei ouvir tua voz e não me tocar lá no coração
Eu tô tranquilo, então beleza então
Mas eu acho que eu apertei a tecla Esc muito forte
Me diz aí que que eu posso fazer pra sentir tesão
Por que essa criança foi jogada fora junto com a água do banho?
Esse é o preço pra eu não sentir tensão?
Fala sério, assim eu não quero
Não sei viver assim: feliz-blasé
Ah não, vai se fuder


Meu coração é grande
Ele quer sentir
Sensível


Com a tua voz quero poder chorar
Quero estar do seu lado
Cantar em coro
Quero tua dor poder partilhar
Dói também em mim, eu sei
Mas eu também sei que esse peso dividido é um peso menor pra cada um
Então vale pena
Ninguém merece uma perpétua solitária
Nem o pior dos monstros
E nenhum de nós precisa caminhar sozinho...
Nenhum de nós precisa caminhar sozinho...
Nenhum de nós precisa caminhar sozinho.


Acabou, doutor
Eu abraço a rosa
Eu aceito o espinho
Não quero mais a tecla Esc.

Nem quimeras, nem atalhos

Eu não pego atalho
Pode, eu deixo, tu me chamar de otário
Eu posso até me cansar mais
Mas não tenho nada a esconder
Muito diferente do que tu faz

Então quem é o otário aqui, filho da puta?
O otário é você!
Vai se fuder!
Eu te calo com meu papo reto
Eu papoco esse teu papo cheio
Com palavras simples que tu não conhece
Mas todo mundo sabe

O teu papo é torto
Entulhado de parêntese
Prolixo, cheio de vírgula
Só frases numa ordem inversa indecente
Pra que isso? Pra que esse monte de palavra empolada
Que mesmo espremendo muito ainda não diz nada

Tua fala é uma língua de quimera
Só pra deixar a molecada nova toda encantada
Mas é um monte de merda que não me assusta
Porque tua quimera complicada é só um conto de fada

Eu te detono e é com a verdade
E da mais cáustica
Tu não sabe o tamanho da minha força de vontade
Eu não pego atalho
Eu acredito é no trabalho
E eu não paro
Posso até parar um momentinho
Pra respirar
Pra recomeçar
Mas dos teus atalhos
Ô filha da puta
Eu não me valho

Chama

me chama pra ir na praia, no shopping ou na pracinha
só chama que eu vou contigo, de carrão ou de motinha
chama pra qualquer lugar
chama, que eu não faço caso
me chama pra tua casa
que eu vou sem nem pensar

me chama pra um café
me chama pra te escutar

me chama praquela série
que a gente nunca assistiu no teu sofá

alimenta a minha chama
me traz a brasa da tua boca

incendeia, me incendeia
seja meu fogo no teu chuveiro
seja teu fogo na minha cama
me chama
só me chama
demorou demais
já demorou... me chama

Meu 21 de abril

Mano me traz um alicate
Pra eu arrancar dos teus pés 
As tuas unhas
E das mãos também 
Uma a uma 
Porque eu só quero 
Filho da puta meu grande amigo 
Te ver gritar por tudo que tu me fez aguentar contigo

Você riu, você gozou
Não só da minha
Mas de toda a nossa paz
Agora pega ali aquela pá 
A tua cova te espera
E é você quem vai cavar

Aliás, vem cá, meu camarada 
Pega ali antes um quilo de sal e três de cal
Porque a terra em cima dos teus restos 
Não merece nascer nem flor nem grama 
Nem nenhuma erva, seu parasita
A tua terra é desolada
Igualzinho tu deixou as nossas vidas 
Terra arrasada, cheia de restos

Abre bem a boca 
Quero ver teus dente
Range eles filho da puta
Aproveita bem que tu ainda tem
Porque daqui a pouco
Vem o martelo 
Vem o papoco 
Na tua cara de pau
Que eu vou escavar com um cinzel
E escrever na tua testa
Mil páginas 
De todo o abuso que tu deu

Pode chorar
Que eu vou fazer você se afogar 
Nas próprias lágrimas 
É hoje
21 de abril é o meu feriado nacional 
E você é o meu paciente 

Quero o meu ar

já tem um tempo, cara
que eu tô mei sem paciência
pras tuas caras e canalhices sem licença
tô mei... não... tô MUITO puto
com teus dramas de partir o coração
daqueles desavisados que não sabem como é a tua dispensa

me dá licença, vou me retirar
não preciso ouvir tuas mentiras
nem da porra do teu sofá

sai prá lá
não quero mais
já chega
me deixa só
que eu tô melhó
sem essa despesa

antes só do que mal acompanhado, tu sempre disse
agora sou eu
chegou o dia, chegou a hora
de eu sair da porra dessa crise

vou te deixar muito distante

não é um pedido, é um aviso:
tô me mandando
mando você se fuder, se for preciso
e enquanto os meus pés me mandarem andar
eu vou me manter caminhando

eu vou me afastar, foda-se
até o dia que eu ou você
não mais respirar

a partir daqui eu sigo só
quero o meu ar
quero o meu ar
quero o meu ar

No palco todo mundo brilha

no palco todo mundo brilha

especialmente brilha o idiota
ególatra lixo narcisista
que se adorna todo de diamante
e que tirou da onde?

com certeza que foi do cu
porque não tem como ter sido de outro lugar
muito diferente de eu e mais tu
que sangra e sua todo dia de tanto trampar

porque quando você olha de perto então vê
aquele brilho todo não passa de maquiagem
vidro bem polido, puta sacanagem
e nóis aqui parecendo zé ninguém fudido
seguindo honrados as regras do jogo no fair play

cansei
não de minerar de verdade minhas riquezas
não de esculpir na honestidade toda a beleza
cansei 
foi de deixar esses mandraques 
cheios de truques
ditar o fluxo 
da correnteza
acabou festa
vão tomar porrada agora
vão sentir tristeza
chegou a hora
essa é minha certeza, irmão
não vou deixar passar, acabou 
não vai ter perdão

é eu sei, no palco todo mundo brilha
da minha luta só quem sabe é minha família
ali comigo nos bastidores
ajudando nas dificuldades
me amparando nos temores
comemorando felicidades
nas incertezas fazendo figa

com vocês
nenhuma tristeza por muito tempo fica
então que se dane 
se no palco todo mundo brilha
nosso palco de verdade
é aquele do nosso trabalho por trás das cortinas
são vocês
que eu quero levar 
dentro do peito
e são vocês
que eu vou lembrar 
sempre satisfeito

então foda-se o brilho do diamante
o nosso brilho está 
aqui no nosso olhar
aqui no de cada um

Tomei meu ódio

tomar um susto do despertador
antes do dia chegar
tomar café com o remédio
mandado pelo doutor
tomar a condução
pra um trabalho sujo, maquinal e sem razão
e tomar no cu todo dia preso
nessa rotina
como a se a vida fosse um camburão

tomei um tombo
já tomei todas
porque eu tomei as colheradas daquela sopa
onde tu pôs
seu inseto tóxico!
a porra da tua mosca

já tomei ferro todo bobo em ti confiei
e como muitos tomei na cara
mas tomei meu orgulho, pedi ajuda e superei

tomei vergonha na cara não aceito mais
do teu cálice de mentiras eu não tomo
nunca mais


não se preocupe não
eu sei que isso dói
mas já tomei minhas aspirina
de mim eu tomo conta
não se preocupe
eu não me corto
mesmo com esse ódio todo
eu hoje eu me curto

o que eu não curto é a curtida
na postagem da chacina
eu só sei é que na distância
tomamos conta da vida um do outro
sem se dar conta
que o irmão bem do lado precisa de socorro

quando o sol nasce isso é pra todos tomar
vem sol
os seus raios são meus
tão fortes e puros como o meu ódio
purificado, a minha raiva bruta sublimada
em palavras
que eu não domo não
e que eu nunca mais domarei

esse ódio eu tomo puro, preto e amargo
eu tomo aos goles todo
como quem morre de sede no fundo de um poço
esquecido
é que é daí que vêm as forças pra eu sair
devo me escalar sozinho
já que ninguém tá nem aí
foda-se
eu vou me erguer
nem que seja com as próprias mãos
sangrando
é isso aí, foda-se
tomei meu ódio, foda-se
e vou seguir sem pressa
tomar meu sol
foda-se
cuspir meu fogo
e seguir caminhando

Anos de distância

Cortei alguns nós à faca...
Outros rasguei com os dentes...
Do ouriço
Todos os espinhos eu pincei pra fora...
Um a um... da minha carne.
Masssssssssss...

Mesmo há tantos anos de distância
eu ainda sinto o teu cheiro podre
porque porra você logo não morre?

Os teus cortes foram tão profundos
Putas cicatrizes
(Aqui, meu amor, não encoste...)

Que merda de nó mais apertado!
Deixa o meu sangue correr!
Eu te detesto, então vai se fuder!
Por que você não simplesmente morre?!

A tua memória aparece nos lugares mais estranhos
Na cara de pessoas nadas a ver
E eu cego continuo a te enxergar
Com aquele teu sorrisinho de um morto

Eu sei quem tu é de verdade
O teu eu por dentro é vazio e cheio ao mesmo tempo
Como uma privada quebrada
Imunda, insuportável, seca e suja
E que ninguém tem coragem de lavar

Lembrar de você me dá ânsia
E isso é uma merda
Por quê?!
Mesmo há tantos anos de distância
Eu ainda sinto o teu cheiro de porre
Porra!
Por que você logo não morre?

Depois dos seus depois

Tenho uma coleção dos seus depois que viraram nuncas
E estou farto deles
Eu ainda te esperava porque você ao invés de dizer "não" logo
Diz "sim, daqui a pouco"
Que de pouco não tem nada 
E passa-se todo o tempo do mundo e nunca chega

E quando eu me farto e me afasto
Lá vem você com uma boca cheia de "vem aqui vamos ali"
E eu vou aí e você bem meia boca vem, e nunca lá vamos
E ficava eu a esperar e a imaginar e a supor 
O que eu poderia fazer para fazer esse nós funcionar

Tadinho, eu só precisava ver que não havia nada pra eu fazer
O que tinha pra eu fazer já fora mais do que feito e refeito
Agora não, aqui nada mais de "daqui a pouco"
Nunca mais receberei os seus depois.

agosto 2021

Minha senha agora é: tô puto

O único jeito de não ficar triste
É
Ficar puto
Então hoje eu vou
Meu coração
Vou vociferar


Cada decepção pra fora eu vou por
Vou soltar o verbo
Eu vou reclamar
Tu estraçalhou meu coração
O tamanho da minha dor
É o volume do meu berro


Você quer me conhecer?
Quer minha conexão?
Quer navegar comigo?
Então atualiza aí meu amor
Minha senha agora é:
Tô puto
(tudo junto em capslock)


Com meu coração
Eu vou... vou vociferar
Com o coração nas mãos
Eu vou caminhar
Eu já cansei de tamanha tristeza
Me levantei
Me atualizei
Minha conversa
Agora é no privado
Se você quiser entrar então
Tá convidado
Mas a senha agora é:
Tô puto
(tudo junto em capslock)


23.04.2022

14 abril 2022

Promete pra mim que você não vai ser feito de trouxa

Blasé
Sem um porquê
Pra sorrir
E um sorriso forçado
Esperando
Além de ninguém pra me fazer feliz

Desde quando esse cansaço?
De onde começou o meu caso?
Como calei o meu canto?

Sentado no canto sem descanso

Seu descaso e o meu desencanto
E agora
O meu descaso e o seu desencanto

Como pode tanto tempo junto --
nós dois aos dez mais oito,
e numa noite
naquela noite
somada a todas as outras noites dos últimos dois anos --
não ser junta pra toda a vida.
Não daquele amor mais
Mas talvez de um outro que não morreu
Só sei que hoje eu só quero só, eu só quero paz

É no silêncio do meu silêncio que eu me ouço
E o que eu falo de mim pra mim
É sobre o que eu vim, vi e vivi
Mas não venci
E se venci foi porque enfim cheguei no fim

Não há o que vencer num jogo de não competição
Não perdemos nem nos perdemos
Mas não temos mais nem o nós
Nem o perdão

Puz só um ponto final nas rimas
Dei um fim às rixas
Cansado desse cansaço de se estar cansado
de mim contigo
de ti comigo
e não do nosso laço
mas dos nossos nós

Chegou a hora de desatar
É... eu cortei!
Já não dá mais.
Continuei.
O dia de hoje não pode ficar para depois.

Carpe diem: você me dizia todos os dias
Memento mori: e eu de ti me lembrava
Como não vou me esquecer
Das suas últimas palavras
repetidas duas vezes naquela estação rodoviária:
Promete pra mim
que você não vai
ser feito de trouxa...
Promete pra mim
que você não vai
ser feito de trouxa...
E eu repeti... pela última vez:
Promete pra mim
que você vai
Só isso, sempre isso
que você, mesmo só
Só vai se cuidar.

Apertamos as mãos e partimos...

13 de abril 2022

O final de um outro livro

 Então é assim que o amor acaba?
Você vai se desligando do outro pra deixar de sofrer?
E vai passando a não sentir nada?
O amor acaba assim?
Vencido pelo cansaço, surrado pelas coisas ruins?

Hoje eu começo a sentir medo de te amar tanto...
Porque te ver deixar esse mundo por conta própria...
Seria...
Absolutamente...
De-vasta-dor

Meu corpo continuaria se movendo
Meu coração não pararia -- o sangue correria até mais rápido
Meus olhos continuariam se acordando -- mesmo que trocassem o dia pela noite
Meus pulmões seguiriam respirando...
Mas eu aqui que você conhece e que eu tão bem conheço
Esse iria junto contigo.

Pensa:
Metade de nossas vidas já passamos juntos
Metade da minha história toda até hoje nos tem como protagonistas
Minha história sem você não seria uma continuação,
Pois metade da minha é a nossa história
Minha história sem você não seria um novo capítulo
Eu não teria como virar a página.
Não...
Seria a última página, o livro se fecharia.
E eu o poria de volta na estante.

Minha história passaria a ser um outro livro,
Com outros tantos personagens e um outro protagonista
Seria uma nova história...
Cheia de poréns e todavias... Atravancada
Completamente arrastada e lenta e cinzenta e repetitiva...
De alguém tentando preencher um vazio incomensurável
Tentando apaziguar uma dor tão imensa
Que ele se esqueceria até o porquê ela está ali, mesmo tão tremenda
E ele ficaria sem saber
Que o começo dela foi o final de um outro livro.



Amigo é o caralho

se eu ainda fosse um moleque 
se ainda fosse um deslumbrado
eu cairia no teu papo
de grandes promessas
eu cairia na tua conversa 
de altos títulos
mas que na verdade só me renderiam
muito, e quão ingrato,
e um tanto infrutífero 
trabalho
qual, meu amigo?
o de trabalhar pra ti

eu sei o valor do meu tempo:
é o tempo que eu dou à minha vida
e ela vale muito mais, 
mas muito mais
do que as tuas micharias

se o que você me oferece 
fosse realmente assim tão bom
egoísta que você é
você não estaria ofertando

se o que você me apresenta
fosse assim tão máximo
filho da puta que você é
tu estaria é escondendo
assim como todas as vezes 
que você se escondeu
quando eu precisei de ti 
mas me deixou na mão

então vai pra merda
engole agora esse sapo
isso não é nem metade
do quão cheio tá o meu saco
então vai pro inferno
abraça o capeta o teu irmão
isso não chega nem perto
do que eu tive que aguentar

demorei a enxergar
quando eu andava contigo
que tu só tem os olhos
voltados pro teu umbigo

amigo?!
amigo é o caralho
aqui não

Encurtar o espaço, estender o tempo

Quando a gente quer alguém
Tudo o que a gente quer
É encurtar o espaço
E estender o tempo
 
É nessas horas que eu queria que magia fosse de verdade
E os locais e momentos fossem dobráveis conforme o desejo
Esse:
Que toques seus eu receberia de você aqui?
Que toques meus você levaria de mim aí?
O que fariam os nossos corpos lado a lado agora?
 
É nesses momentos que eu queria que tudo isso fosse fato
E concreto
Tanto quanto essa fome de provar teu cheiro
Tanto quanto essa sede de sentir teu gosto
Tanto quanto esse anseio de mergulhar em ti

Me ensina a palavra mágica de encurtar o espaço e estender o tempo.