04 agosto 2013

O meu olhar é embaçado como o que eu digo

O meu olhar é embaçado como o que eu digo.
Não vejo com os olhos, vejo com a língua.
E o que vejo a cada momento
É aquilo que antes eu já tinha previsto,
E me dou por isso muito mal.

Sei ser um tolo essencial
Como uma criança que, ao falar,
Não percebesse o que dissera deveras...
Sinto-me perdido a cada momento
Nos emaranhados embolorados do meu crânio

Creio nos meus devaneios como num pesadelo,
Porque os sinto.
E incomodado tento à toa não pensá-los
Porque sentir é o que os vivos sabem de melhor fazer...

Os pesadelos não se fazem para pensarmos neles
(Sonhar é flagrar o Desejo e o Medo transando)
Mas para vivermos eles e chorando sermos acordados...

Eu não tenho sentidos: tenho devaneios excessivos...
Se falo de tantos quereres e terrores não é porque tenha todos eles vivido,
Mas porque os sonho, e os sinto aqui estralando entre os meus ossos

Porque quem sonha nunca sabe direito porque sonha
Nem lembra tudo o que sonhou, nem o que é sonhar

Sonhar é uma infinita carência
E a última carência é não sonhar

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