03 fevereiro 2014

a.braços e dis-tensões



             Aqui faço um alongamento que não dou conta e distendo os músculos. Doem-me os tendões. Por aí distendem as palavras com hifens, pontos, parênteses e espaços. Doem-me os nervos.
            É algo muito em voga por parte de (pre)tensos poetas: pegam uma palavra, decepam ela de uma ou outra de suas sílabas, escrevem ela assim partida, um termo seguido do outro, e com isso dão a essa palavra outros sentidos... Às vezes, depois de bancar o açougueiro, colocam um termo abaixo do outro e essa sequência forma um pequeno texto, ele dotado como um todo de um outro sentido... Pra mim, são in-flamadas distensões...
            Aqui um exemplo de cortar os pulsos:

Expulso
Ex...Pulso
Pulso

            Ou então:

Não entendes o que desejo, é a minha intenção...
Não vês aqui dentro, qual minha in-tensão...

            Já vi muito em assinatura de emails – ao invés de “Até a próxima! Abraços!” escrevem tão poeticamente “Até a próxima! Há braços!”. Nossa, genial! Separou a palavra e criou outras duas, de modo que nós ouvimos o mesmo som, “abraços!” e assim uma despedida, mas “vemos” outra imagem, e uma imagem abstrata!, olha!, não necessariamente de braços literalmente, mas por metonímia: braços, força, disponibilidade, ajuda e correlatos.
            Já vi receita para a dor nossa de cada dia:

 Dor?
Ação!
Doação,
Doa ação...

            Já vi um aforismo à moda hippie:

Eternamente, éter na mente...

            Já vi um cheguevariando Darwin:

Viva à (r)evolução!

            Já vi trocadilho espertinho... e que não diz nada:

Separa-se... Para-se para separar. Se para, para separar se para.

            Já vi escárnio, talvez inspirado no Viramundo de Fernando Sabino:

Mentecapto, tua mente eu capto.

            Ou ainda um pequeno absurdo:

Católico
Cat-ólico
Gato Alcoólico

            Real-mente poetis-ações sofis-sticadas! Estou im-pressionado! Devo dizer que sua escrita é bem re-finada.
            Não é poesia, são recursos poéticos para dar um toque especial no meu texto. Não posso? Ou não, é poesia sim, não tenho liberdade poética? O texto não é meu?
            Claro que pode, feliz.mente não há nenhuma lei proibindo. Liberdade poética? Às vezes temos. O papel em branco é seu, a caneta é sua. Só não fique se achando “O artista” quando fizer tão óbvia poesia. É difícil ser o Paulo Leminski, é difícil fazer arte. A Arte não é óbvia, mesmo que com ela vejamos algo muito familiar.

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