28 fevereiro 2014

ainda me assusta o tanto de cicatrizes que levo no corpo

Duy Huynh, "Recollections", 2012, acrílico sobre madeira


ainda me assusta o tanto de cicatrizes que levo no corpo
é quando eu vejo o quanto eu já me machuquei
parece até que eu sou feito de um vidro
de um vidro bem grosso
a pele lascada,
que sempre derruba
alguns cacos de mim
a cada pancada

eu me olho assim e pareço um boneco torto
rachado todo
um quebra-cabeça esquisito
eu olho pra trás e vejo que logo atrás
deixei atrás de mim
um monte de cacos

então eu me assusto: "Caralho, eu não via que tava assim tão quebrado!"
sim, e eu não sou mais criança
e esses cacos
sou eu que vai ter que juntar

só resta então fazer o caminho de volta
caco
a
caco
catando estas migalhas de vidro

e eu ando
ando feito João e Maria,
no entanto,
sozinho,
um sem o outro.

E não adianta chorar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário