17 junho 2013

Paisagens



            As paisagens eram curvas: concavidades, convexidades, recuos, saliências. Paisagens a não ser só vistas, mas sentidas, cheiradas, provadas. Entradas e entrantes que caçavam um encaixe.
            O sol buscava seu ocaso, seu destino, mirava-se em mergulhar no oceano. As nuvens corriam mais rápidas, de um vento forte. Os movimentos cresciam, iam mais longe, mais adentro. O calor aumentava. As cores ao redor mudavam de tonalidade: brancuras, rosuras, vermelhidões. E então luz e sombras se alternavam. Eram sinais de um terreno a ser banhado.
            Abaixo, um tronco verdejante e uma grossa raiz, serena, sem pressa, adentrava a terra, passo a passo, um de cada vez, a provar a umidade, a sentir a calidez, a perceber as asperezas, as invaginações do interior. Uma noite abaixo-solo era encontrada. O útero tão próximo, o útero tão quente da terra, onde tesouros são semeados, onde a vida é certa, onde milhões se atiram ensandecidamente. Era voltar ao início do início da vivência.
            Um tropel de brancas nuvens se amontoava. Um jorro estava próximo, uma tempestade se formava. Um rumor trovejante era ouvido, elétricos suspiros cortavam o espaço. Todas as raízes abraçavam a terra, agarravam-na, apertavam-na, preparavam-se, preparavam-na, pressagiavam o estouro, o raio branco vindo da abóboda. Já não existia mais calma: eram voltas revoltas, ventos movimentos, fragores fulgores. Folhas e galhos se chocavam e se misturavam se apartavam e se reuniam se confundiam e se embaraçavam. Sussurros, sibilos, estalos. Soluços, bramidos, chiados.
            Golfaram firmes fecundantes cristais celestes..... numa vasta cortina branca. Os espaços se alargavam, davam espaço às embainhações líquidas. A terra fremia ante essas entradas mornas, cachoeiras de um rio claro que escorria. O encontro das matérias era forte, terremotos perpassavam os caminhos.
E o horizonte se abria...
                                    e os ventos cessavam... 
                                                                         e o sol queimava... 
                                                                                                        e a terra ardia...

2 comentários:

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  2. Garrafa de Salton Flores... esse relato evoca as mesmas impressões de um quadro impressionista, evoca uma vivência intensa, pictórica, que não está nem um pouquinho interessado em dar um retrato fiel da experiência.... que enfatiza as sensações, e não o que é dito, ao tentar descrever o que vê e sente e vive, enfim... impressionismo.... pintura erótica ao ar livre...
    As vezes tudo o que é preciso é mesmo sentir, e não dizer o que se sente... outras vezes é exatamente o inverso, pra desafogar as ideias e as sensações... e assim se vai vivendo...

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