29 junho 2013

Passageiro



          Passo eu em corredor da morte quando desço de um ônibus para ser atropelado. O pé no último degrau do veículo, o último suspiro. Ser eu um pedaço inteiro às vésperas de ser despedaçado. Passo eu, eterno passageiro, que me pergunto o que quereria com toda a eternidade à frente se soubesse que não morreria deveras ao morrer, que os destroços de um corpo são não mais que os destroços de um corpo, que me mantenho vivo apesar de se tanto dizer o contrário. Seria a morte a burrada de tantos quantos creem morrer?
            Vida... a vida eu descobriria viva apesar dos destroços daquilo que me veiculou? Vida... que me serviu de por onde nascer, chorar, mamar, crescer, dormir, talvez sonhar, sofrer, despertar, amar... — não, não amar, descobrir que se pode amar, e nessa descoberta subir perplexo em um ônibus e descer num degrau para a.... A vida que eu descobriria viva apesar da vida?
            Passamos nós, o tempo permanece tempo em toda sua passagem. Os dias passam e as horas umas após as outras se vão e quanto a isso não há novidade. Mas o que faz passar o tempo senão a nossa própria passagem e movimento?

Nenhum comentário:

Postar um comentário