Passo eu em corredor da
morte quando desço de um ônibus para ser atropelado. O pé no último degrau do
veículo, o último suspiro. Ser eu um pedaço inteiro às vésperas de ser
despedaçado. Passo eu, eterno passageiro, que me pergunto o que quereria com
toda a eternidade à frente se soubesse que não morreria deveras ao morrer, que
os destroços de um corpo são não mais que os destroços de um corpo, que me
mantenho vivo apesar de se tanto dizer o contrário. Seria a morte a burrada de
tantos quantos creem morrer?
Vida... a vida eu descobriria viva apesar dos destroços
daquilo que me veiculou? Vida... que me serviu de por onde nascer, chorar,
mamar, crescer, dormir, talvez sonhar, sofrer, despertar, amar... — não, não amar,
descobrir que se pode amar, e nessa descoberta subir perplexo em um ônibus e descer
num degrau para a.... A vida que eu descobriria viva apesar da vida?
Passamos
nós, o tempo permanece tempo em toda sua passagem. Os dias passam e as horas
umas após as outras se vão e quanto a isso não há novidade. Mas o que faz
passar o tempo senão a nossa própria passagem e movimento?
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