pau no c* do viking branco

alienado lambe saco
chupa o pau do viking branco

o bisavô do teu avô 

era preto

a bisavó da tua avó 

nasceu no mato

e tu aí pagando pau pros alemão

os alemão nem sabe que tu existe

e os que sabe te olham nos olhos 

e depois escarram no chão

coitado docês 

seus rockeirinho colonizado

ocês me vem agora com essa frescura de só querer cantar em inglês?

aí se for assim 

eu prefiro cantar em japonês

arigatô meu Exu grandão

arigatô meu Oxalá meu vô

que eu não preciso ser dotô

pra saber cantar em português

arigatô meu Exu grandão

arigatô meu Oxalá meu vô

que eu não preciso ser dotô

pra saber cantar em português

os vikim erum bando de estrupador

uma corja suja de ladrão safado

bando de bêbado lixo que não queria trabalhá

ua coisa eles sabium fazer: 

matar um tanto e o resto escravizar

e todo aquele chorume de gente branca e gelada do norte

tudo farinha do memo saco

tudo enriquecido às custa da nossa vida

casas erguidas pelo nosso suor sagrado

solo regado com o nosso choro salgado

açúcar adoçado com o nosso sangue 

essa pátria tão namorada da nossa morte

não tem nada de bonito quando a única coisa que você só sabe fazer é cortar a barriga de alguém e levar o que ele tinha nos bolsos enquanto ele segura as próprias tripas com as mãos

me diz aí seu colonizadozinho:

você queria memo morar com alguém que matar é que nem tirar um cochilo numa tarde de domingo?

se tua resposta é sim... basta me chamar pelo nome 7 vezes

AHAHAHAHAHAHAHAH

depois vieram os ingleses, os espanhóis e os portugueses 

só pra uma coisa:

pra nos explorar, arrancar tudo 

até a nossa moral

fuderam o útero e sugaram os seios 

das nossas avós 

como bem entender

roubaram a força e o orgulho 

o coração e os músculos

dos nossos avôs 

até não mais poder

e depois de tudo gasto

jogavam todo mundo fora numa cova rasa e sem marcação

coisa que não se faz nem com um bichinho de estimação

por isso eu me vingo 

desse bando de lixo racista

eu me manifesto quando eles dormem 

e me infiltro nas pequenas cosias do dia a dia

dando muita raiva e um puta sentimento de injustiça

só pra deixar eles putos e perderem as estribeiras

perderem a paciência e o juízo

e nessa brincadeira

fazerem merda e terem muito prejuízo

até aprenderem que são um bando de cu sujo

porque nunca se limpam direito

e se acham cheio de direito

só porque passam perfume importado

daqueles que lucram em cima desse bando de burro

fecha os olhinhos meu porquinho racista

te deita tranquilinho meu pequeno cordeiro...

quando tu menos percebe tua noite de sono

vira um molhado e vermelho pesadelo

sabe porquê?

eu enfio o teu eugenismo numa ponta de lança

e te sento em cima, atravessado

do rabo até a cabeça

não é você que antes de dormir bate uma punheta 

gozando com uma mocinha sendo brutalizada no xvideos?

agora vai ser tu que de olhos bem abertos

vai ver teu coração sair pela tua boca

na ponta de lança que te subiu toda suja de bosta

eu vou rir demais e babar sedento

tamanho vai ser teu susto

seu racista escroto covarde mascarado

quando eu de repente aparecer debaixo da tua cama

ou arranhar o teu guarda-roupa pelo lado de dentro

4 contra 1 (ou sobre como não quero te amar)

não quero te amar 
mas me preocupo sobre como vou te cuidar

não quero me apaixonar por você

mas acordo querendo receber o teu primeiro bom dia

não quero você assim tão perto

mas falo qualquer coisa de longe pra te aproximar

tenho você fora de qualquer um dos meus mil planos

planos falhos

como sempre

falhos planos

desconsiderando todo o fator humano

e os resultados 

de conhecer alguém bem de perto, bem de perto e...

assim mesmo tão discreto 

simplesmente amar

foi...

acabei de escrever isso aí

acordei, só bebi água, e papel e caneta e...

pronto, tai, tai

tá ai

tô aqui te amando

é uma porra mesmo

eu escrevendo poemas pra você

primeira coisa do dia

fala sério

tô me sentindo dividido

entre a razão

e o quê?

e todo o resto: o corpo, a emoção e o desejo

três contra um

eu tô fudido mesmo

não... pior

é quatro contra um

porque ainda tem essa mulher amada aqui

intermitentemente me estimulando

o desejo

e eu tento continuar normal falando 

mas só gaguejo

eu te amo

me escapou

eu te amo

essa porra como que pode?

já?!

eu te amo?!

não pode

ladeira acima em tamanha velocidade

COMO ASSIM???

como ficam nossas duas liberdades?

fundidas? fudidas? 

paranoia é aquela irmã mais velha que a gente pelo menos suporta

paranoia sempre foi muito inteligente, desde criança

mas desde a primeira menstruação foi crescendo crescendo crescendo 

e ficando cada vez mais e cada vez mais burrificada

não é toa, coitada, tomou muita pancada na cabeça

todas dadas pela sua mais odiada inimiga:

a vida

e a desgraçada cresceu tão alta que criou o hábito de baixar a cabeça quando passa pelas portas

e assim sempre chega nos lugares, principalmente nos novos, olhando a ponta dos próprios pés

e criou o costume de sempre andar assim...

procurando buracos, caçando armadilhas

indo no rastro das cobras, vasculhando escorpiões

e o que mata

e o que tanto a fortalece

é que de quando em quando

ela curiosamente acerta

ocasião infeliz em que ela finalmente levanta a cabeça

olha pra frente, sorri nervosa e ri de alívio

enche o peito e berra "tá vendo! eu não sou cega!"

estridente monstrona

olhos vidrados de insônia

mas passa raiva e se desestabiliza 

fica muda a criançona assustada

quando chega em casa sua irmã mais nova

pequena e veloz, com os olhos de brasa

mal educada que já chega mandando

"sai fora boneco de olinda, girafa de salto, coqueiro de praça, sai que aqui tu não manda em nada

te cala e ouve

olha ao redor e não pra dentro

tua irmãzinha chegou pra te dar descanso

mas não sossego

e te fazer companhia, e sem te mimar, acabar com essa tua agonia

venha, vamos fazer as pazes, seja grandinha

minha galalauzinha preferida

seja amiga da eleutherozinha aqui 

venha

você pode ser você mesma desde que seja dentro da sua devida medida

não adianta querer vestir minhas roupitchas

eu sei que não tem como você chegar num lugar sem se curvar para caber na porta

mas nunca, minha irmã, baixe sua cabeça

seja alerta, mas lembre-se de que só precisa de guarda alta na luta

seja esperta, mas guarda a esquiva afiada pros filhos da puta

e nos poupe de desgastes sem precisão

se você está em casa, descalce as botas e coloque os pés no chão

e se der alguma merda, como sempre pode dar

relaxa, que é só se levantar, limpar tudo e se lavar

grandona... tu já sobreviveu a tanto... 

não sacou ainda que o que não mata fortalece?"

eleuteromania é o nome da minha amiga

eleuteromania é o nome da minha amiga

com ela eu saio sem pedir licença

eleuteromania é o nome da minha aliada

ela sempre me encoraja a dizer NÃO

a dizer FODA-SE

e abrir minhas asas

quem é ela?

eleuteromania é a irmã mais nova da paranoia

ri na cara das manias da mais velha

e puxa os cabelos dela, morde e grita

quando as duas se chocam 

xinga, crava as unhas e estapeia

eleuteromania é o nome dela

é a menorzinha

mas é a mais braba

afiada no close combat

ginga no groove da capoeira

gira que gira

levanta a poeira

mestra do contra-ataque

guarda alta e esquiva rápida

mas não por medo

e sim por preparo

coração em chamas

leveza

joelhada voa na cara de gente folgada e sem respeito

ninguém segura ela

arrasta o pé

pula

não cai em rasteira

eleuteromania tá sempre ligada mas não se assombra

ela relaxa e canta

é sossegada, mas nunca descansa

a não ser na própria casa

onde já chega provocando a irmã

com um sorriso matador

que diz tudo num silencioso e cortante arpejo

"para noia... para... ou vem... se quiser outra surra"

um breve comentário sobre a tua simplória inércia

ouve aqui criança trouxa

limpa esses ouvidos pra tu escutar esse velho marinheiro

que pode te ensinar uma coisa ou outra sobre as mulheres

se quiser me ouvir ouça 

se não quiser, pra mim não vai fazer a menor diferença

sou apenas um velho marinheiro

que, se morreu de velho, foi porque confiou nas próprias vísceras

e leu dos mapas as entrelinhas

que ajudou a construir muitas pontes nas cidades por onde passava

e que aprendeu a ler as estrelas tanto nos livros quanto na vida

você não a ama

você só está indo na simplória inércia

arrastado pela correnteza movimentada pelo sabor 

do teu pau e daquela fera que a gente chama de buceta

essa criançada não aprende que é assim que funciona

se confunde e se frustra

e depois volta pra casa chorando

tentando achar a mamãezinha

que já devia ter sido enterrada faz é tempo

fazem de conta que amam um amor puro espiritual

mas se esquecem

que o amor sempre vem dessa fome de carne mijada

de uma boa trepada e aquela gozada explosiva

por isso eu sempre mantenho limpo o meu canhão e as minhas bolas

nunca se sabe quando você vai ter que enfrentar uma bela fragata

não se deve amar ninguém por inércia

seguir num rumo apenas porque o vento prali sopra

tu parece um náufrago coitado à deriva

aí imaginando um futuro colorido, café doce e pão com manteiga

a família sempre bonitinha ao redor da mesa

tardes de tédio, missa no domingo

se esquecendo que comanda uma tripulação sedenta por mais

numa barcaça armada pra enfrentar todo tipo de merda

sim... é encantador um boquete bem feito

você fica louco, o caralho latejando

com o hipnótico cântico 

te chamando pro mergulho 

naquela xoxota molhada e carnuda

pra te afogar na caverna que te suga

uma boa foda não é suficiente, criança trouxa

escuta aqui

ouve esse que já sobreviveu muitos invernos

que já foi do céu ao inferno e que já foi e que já voltou

amar é no dia a dia, é no café amargo e que queima a língua

no arroz queimado e no feijão que não cozinhou direito

no jantar com o almoço de ontem requentado

na latrina que precisa de limpeza e vocês já estão cansados

é na rusga sem querer porque estavam estressados

é no pedido de desculpa envergonhado

é no peido que escapa na cama com a pessoa ao lado

amar é quando o assunto acaba 

e vocês não sentem medo

cada um sozinho, ao lado, em silêncio

o amor é um bichinho que dorme sossegado e quieto

e que você lembra que um dia ele até subia pelas paredes

mas você é muito trouxa mesmo, criança, por amar depois de uma chupetinha

quem nasceu primeiro? 

o ovo ou a galinha?

o amor ou a gozadinha?

tu não precisa amar pra fuder com alguém

nem precisa ser fodido pra querer se afastar

só atraque num cais a depender da maré e das oportunidades em terra

e levante âncora, velas ao vento, se nesse país sobrevier a guerra

lutas e mártires só são bonitos se vistos bem de longe

abre teus olhos criança trouxa

já foi-se o tempo da miopia

esse livro você já leu

mas agora você já tem o papel e a caneta

e o dono dessa história é você

você é quem marca o X onde vão achar o teu tesouro

quem irá amar os suicidas?

quem irá amar os suicidas?

quem irá nos julgar sem condenar?

quem irá no mar de lama nos visitar?

quem vai de volta pra casa nos chamar?

é muito fácil desistir de quem desistiu do jogo

e apontar o dedo pra quem não suportou tentar de novo

é muito fácil não ter coragem de ir lá embaixo

e ficar só rezando beatificado lá de cima

esqueceram 

que aqueles que foram bestificados

tiveram que o tempo inteiro, o pouco que tiveram 

tendo como opção só a opção de comer merda

e ainda por cima ter que ouvir cobrança 

de que tinham que sorrir e agradecer

por ter que engolir o sapo vomitado pela vida

é muito fácil falar que foi um monstro fraco

quem sempre se fodeu e ainda se fode... 

até na morte

até na paz eterna que tanto buscou

no fim do ato

amargando o gosto da bosta até o pescoço

nesse vale cinza de se arrastar 

querendo esquecimento

pulsar lento perpétuo

é muito fácil é

é muito fácil nos julgar

a dor do outro é muito fácil criticar

dizendo tudo aquilo que fizemos de errado

só leva um segundo pra tapar os ouvidos 

e esquecer que cada um tem sua própria história

que levou àquele minuto desesperado

e rendeu tantas horas e dias e meses e até anos de dor

pros que ficaram

e décadas e séculos de dissabor pra nós que se vão

nunca esquecidos... quando o que queríamos 

não era nada mais que o completo esquecimento

inexistência

a impossível inexistência

viramos eterna cicatriz na alma dos que se importavam

...realmente nada se anula...

...tudo se transmuta...

chegou a Lua Nova

diante dela eu fiquei mudo

ela me disse: 

"quem te chama de covarde é um arrogante.

é um privilegiado por não saber o que é sentir a maior e extrema dor de se ver encurralado e sozinho

bem aventurado aquele que não sabe no corpo o sentido da palavra

IN-SU-POR-TÁ-VEL

é muito fácil não te enxergar e dizer que esse mar de lama é pra quem merece

pois eu te digo, criança: 

FODA-SE A MERITOCRACIA CÓSMICA!!! 

QUEM TEM MORAL PRA FALAR MAL DO CATIVO QUE SE ENFORCOU TODO CAGADO NO PORÃO DO NAVIO NEGREIRO?!

quem vai ter a coragem pra saber amar até mesmo os suicidas?

 quem é que tem o coração largo o bastante para aceitar vocês dizendo NÃO ao mais sagrado dos presentes?

 já estamos fartos de toda essa falsidade cordimariana! aquela rapariga que de virgem não tinha porra nenhuma! eu digo que ela catou um na encruzilhada... ou foi... como tantas de nós... catada... 

e de tão santa que era não podia dizer quem era o pai nem recorrer a um seguro aborto... sob ameaça de apedrejamento. o jeito foi rezar que nascesse um macho e dizer que um anjo disse que ele seria o filho de Deus...

eu digo em alto e excelente tom:

fodam-se esses que dizem pelas costas

com a língua cheia de farpas

que não conseguem entender esse nosso mundinho de sombras

que nada disso que tanto adoramos faz qualquer sentido

que se mostram por aí tão iluminados e alegres

como se tivessem nascido sem ego e sem umbigo

como se nunca na vida tivessem que baixar as calças pra cagar

como se nunca ficassem com o peito cheio de catarro quando estão mal

até parece que também não escarram e cospem podridão quando ficam doentes

fodam-se todos esses que dizem que você não pode ficar triste nem com raiva

e ainda por cima te obrigam a agradecer aquilo que não faz nenhum sentido

foda-se toda a porra do namastê

muito fácil dizer sorrindo leve quando nada dói e tudo já tá garantido

muito fácil dizer que querer ou não querer é uma ilusão

minha tristeza eu sei que passa, minha raiva eu sei que passa

meu sorriso eu sei que passa, meu desejo eu sei que passa

meu eu eu sei que passa, eu sei que toda essa porra passa

os caralhos e bucetas que movem o cosmos giram assim

mas ainda assim, somos sensíveis, e isso é o que nos torna vivos

e é por isso que essa merda toda dói

e reclamar é de graça então vão ter que ouvir os nossos xingamentos também

o que dá tempero ao som são os nossos palavrões

então nos ouçam seu bando de cuzões

arrombados sem coração

vocês não sabem o que é acordar já cansada sem querer nem acordar; tão apática que já nem sabe mais se tá triste ou com raiva; se é dia ou noite, tanto faz; que não sente mais se é doce ou salgado, azedo ou amargo, fresco ou podre; que tanto faz essa porra toda; que tanto faz perambular pelo lixo

cansados já estamos desses que não se lixam pra bosta nenhuma, tão iluminados

nesses seus fofinhos tanto faz, tanto faz, tanto faz

vocês nada nunca fazem

a não ser admirar a bosta que se mostra quando vocês se olham no espelho

é muito fácil ter rancor disfarçado de piedade

é muito fácil ter arrogância disfarçada de caridade

é muito fácil ter desrespeito disfarçado de indulgência

vocês não sabem o que é viver vivendo levando porrada

e sozinhos 

as duras penas ter que aguentar

até não aguentar mais..." 

disse a Lua Nova

sim! sim...

quem irá nos amar?

quem? sem julgar

sem sequer perguntar o porquê

sem a curiosidade mórbida de saber quem fomos ou somos

sem se importar se nós merecemos o que tivemos

ou deixamos de ter

sem ligar pro que não fizemos ou findamos por fazer

quem irá apenas estender a mão?

quem advogará em nosso favor?

quem irá pedir para se estender o prazo do pagamento

ou o dia da nossa entrega?

que irá nos ganhar mais tempo para nos preparar para a prova?

quem?

quem vai nos dar a chance de uma nova chance?

quem nos indicará o caminho para um melhor apoio?

quem vai trabalhar para que então a gente melhore

sem pressa, no ritmo próprio das coisas

agindo no tempo do que for necessário

quem irá cultivar essa paciência para saber nos amar assim?

Lua Nova tu me ensinou:

"o tempo longo da existência não é o tempo impaciente do desejo. e tudo isso que vemos agora é só um clique aos ouvidos da Imensidão. olha pra cima e vislumbra a Imensidão. ela que nos abre os olhos para sabermos amar sem pressa. essa aqui é a minha mão, pode apertar e vir por aqui comigo. sei o caminho das sombras rumo às estrelas. sei como te levar embora pra uma nova casa"

fui e aqui estou

reaprendendo o que é a vida

aprendendo a amar 

olhando a Imensidão

e à moça Lua Nova

cuja face preta eu nunca vi

e cuja voz cortante jamais esquecerei

fica aqui registrada

minha eterna gratidão

Necromancia de transmutação pt. 3

ouviu-se um choro

um choro desarmônico

um choro desafinado

um choro chorado 

de soluçar num ritmo pesado

despreparado, desacostumado ao sentir
um choro de quem não sabe chorar
um choro de quem só chorou
no dia quando foi parido
e de que depois
só se ouviram gritos

de fome, de raiva, de sono, de colo, de sede, de dor
e de solidão
principalmente os berros de solidão

gritos apontados numa só direção
a de falsos espelhos
de pesadelos inventados pela manipulação
gritos de quem tem pressa
porque tem fome
gritos de quem alimenta a própria sede de sangue
e nunca se sacia porque nunca come 

o que realmente é importante
e assim segue sempre muito puto e... 

que ironia! 

muito obediente

capacho, fantoche, pisado e controlado
tratado na base de ossos descarnados 
e de deboche
mercenário barato
carniceiro feito barata

assustadiço, sorrateiro

monstrinho que corre pelos cantos
um vale nada

no fundo sempre foi um cego coitado
revoltado sem saber o porquê

taí todo o porquê
você é um garanhão usado como reles burro de carga
magro, sedento, irritado
porque nunca te nutriam como você precisaria
mas eu te falo
aqui no meu time
não tem destrato
aqui tem tempero
tem mistura
tem substância
aqui o papo é reto
tem sexo, rock e lambança
tem cafuné ou mordidas vampirescas
tem dança e bate cabeça
tem beijo na boca ou afago na bochecha
tem banho, tem água fresca
tem descanso 

finalmente tem descanso

sim senhor... tem descanso
tem gente sentada junto na janta 

pão partilhado, vinho ou cana

e até cigarro, se for lá fora

aqui tem olho no olho

aqui tem sorrisos ao redor da mesa

casa erguida com o suor sagrado

aqui o soldo é salgado
aqui trabalha o trabalhador cooperado
social consciente nas correrias astrais
então vem com o pai
passar frio e fome nas sombras nunca mais

Lobo alado, eu te batizo (Necromancia de transmutação pt. 2)

seja bem vindo, lobo alado
eu soube que você não tinha nem um nome

filho sem pai, filho do mundo
monstrificado pelo abandono
tudo o que você queria era só um cobertor
e um beijinho de boa noite na testa
e um pão com cafezinho ao acordar

pois eu te acolho, seu minino
e te diferencio
eu olho bem pra ti e te vejo
te aceito sim como você se mostra
teus dentes, garras, pelos e asas
lobo alado vira-latas carniceiro
navegante de tormentas
marinheiro experiente

eu te abraço 

tomo tuas duas mãos

olho nos olhos de fera e te batizo
junto contigo
vamos te chamar de Guará Mirim, o Lobo Colorado

moleque brabo, cara de carranca
espancador de racistas, o terror dos eugenistas
voa no pescoço do corrupto

arromba o peito do ladrão de colarinho branco 
e dilacera a garganta do puto 
que faz mal uso da justiça

respeita quem dá respeito
humilha quem faz despeito
lambe as feridas de quem se fere por ter a fibra de não recuar do caminho certo
dá um capote no negligente egoísta injusto
levanta a cabeça de quem se mantém humilde na fortaleza
mas dá despesa pra quem não partilha da sua riqueza com quem precisa

esse é o furioso Guará
compassivo e bruto
amigo dos verdadeiros e justos
irmão dos que cresceram sem pai
órfão
mas não mais

Necromancia de transmutação pt. 1

não tenho medo de ti
oh sombra
não te temo
oh monstro
sabe por quê?
eu tranquilamente e de olhos fechados, de mãos amarradas e até sentado
eu consigo ser
muito
mas muito pior do que você

eu só preciso de alguns minutos contigo
eu te enrolo e ganho tempo
então te pego pelo umbigo
te laço ou te enforco com teu cordão umbilical
eu acho teu ponto fraco
e golpeio bem certeiro
na tua pior ferida
e te viro do avesso se for preciso
e te faço chorar como há anos tu não chorava
porque no fundo eu vou lá buscar a tua criancinha
e sabe o que eu faço com ela?

eu resgato e ponho no colo
dou um cobertor e um pratinho de mingau
preparo um banho bem quentinho com sabonete e água limpa
preparo a cama com lençóis lavadinhos
e canto pra ela bem baixinho
uma cantiga de ninar

eu posso te destruir e te aloprar
mas eu prefiro muito mais
é te converter
não em santo nem em cordeirinho
porque eu sei que tu desde pequeno foste criado pelos lobos

eu quero é te transmutar em uma besta diferente
uma estrela no breu da noite
tua nova matilha, nossa constelação de feras
vamos rugir e transformar o mundo
vamos arder e brilhar em meio às sombras
e destruir tudo aquilo que atravanca o caminho dos que amam a justiça

então, saiba
não me tema também
eu te estendo a mão
e te convido a ser o meu aliado
aqui conosco tu encontra uma nova família

a gota d'água é fogo

a gota d'água é uma enxurrada

com muitos raios e vendaval

a gota d'água é um tsunami

gigantesca besta arrasa-quarteirão

a gota d'água é a que te afoga

ou a que te faz afogar alguém 

é a que te mata ou te faz matar

a gota d'água é atroz chama

é o fogo da transformação

nem tudo é uma benção

nem tudo é uma benção

nem tudo é uma missão

nem tudo é uma lição

pode ter sido nada mais que um erro

nada mais que um engano

ou somente uma confusão

essas coisas sem forma que servem para nos lembrar

que somos apenas humanos

tem coisa que é simplesmente ruim

tem coisa que simplesmente dói

tem coisa que simplesmente foi um azar

e que simplesmente e infelizmente não faz sentido

e só nos resta aceitar

aceitar 

porque afinal toda dor passa

e coisas boas também acontecem

vida que segue

Chegou a Lua Nova

chegou a Lua Nova

com sua tiara de roseira 

e na cintura ela carrega 

a sua caveira 

sempre bem acompanhada 

por duas estrelas... 

as suas adagas:

Pôr do sol e Alvorecer 

quando estamos nas sombras

é difícil enxergar

que tem alguém do lado

então é difícil confiar

nos seus próprios olhos

não adianta olhar pra frente

não adianta olhar pra trás

não adianta olhar pros lados

de tão mergulhados

no breu da própria desgraça

não enxerga nem mais que um palmo

então fechar os olhos é o que te basta

tatear tatear tatear tatear

tatear tatear tatear

tatear

nas sombras como posso?

como posso confiar?

caminhar no mar de lama...

no mar de lama se arrastar...

norte sul leste oeste são puras sombras

como sair do mar de lama?

vai levanta a cabeça

e olha pro céu...

mira a lua nova...

sombria lua...

a refletir escuridão...

vai levanta a cabeça

e olha pro céu...

mira a lua nova...

sombria lua...

a refletir escuridão...

sinta o toque da Lua Nova

ela vai te guiar

ela tem olhos de gato

ela escuta o que tu não ouve

ela ouve o som dos teus passos

bem de longe

e te encontra

pra te levar

te dá a mão

mão fina e calejada

leva no corpo cicatrizes de batalha

soldada mestra da adaga

ela leva você de volta

te devolve pra sua casa

chegou a Lua Nova

com sua tiara de roseira

e na cintura ela carrega 

a sua caveira 

sempre bem acompanhada 

por duas estrelas... 

as suas adagas:

Pôr do sol e Alvorecer