ouve aqui criança trouxa
limpa esses ouvidos pra tu escutar esse velho marinheiro
que pode te ensinar uma coisa ou outra sobre as mulheres
se quiser me ouvir ouça
se não quiser, pra mim não vai fazer a menor diferença
sou apenas um velho marinheiro
que, se morreu de velho, foi porque confiou nas próprias vísceras
e leu dos mapas as entrelinhas
que ajudou a construir muitas pontes nas cidades por onde passava
e que aprendeu a ler as estrelas tanto nos livros quanto na vida
você não a ama
você só está indo na simplória inércia
arrastado pela correnteza movimentada pelo sabor
do teu pau e daquela fera que a gente chama de buceta
essa criançada não aprende que é assim que funciona
se confunde e se frustra
e depois volta pra casa chorando
tentando achar a mamãezinha
que já devia ter sido enterrada faz é tempo
fazem de conta que amam um amor puro espiritual
mas se esquecem
que o amor sempre vem dessa fome de carne mijada
de uma boa trepada e aquela gozada explosiva
por isso eu sempre mantenho limpo o meu canhão e as minhas bolas
nunca se sabe quando você vai ter que enfrentar uma bela fragata
não se deve amar ninguém por inércia
seguir num rumo apenas porque o vento prali sopra
tu parece um náufrago coitado à deriva
aí imaginando um futuro colorido, café doce e pão com manteiga
a família sempre bonitinha ao redor da mesa
tardes de tédio, missa no domingo
se esquecendo que comanda uma tripulação sedenta por mais
numa barcaça armada pra enfrentar todo tipo de merda
sim... é encantador um boquete bem feito
você fica louco, o caralho latejando
com o hipnótico cântico
te chamando pro mergulho
naquela xoxota molhada e carnuda
pra te afogar na caverna que te suga
uma boa foda não é suficiente, criança trouxa
escuta aqui
ouve esse que já sobreviveu muitos invernos
que já foi do céu ao inferno e que já foi e que já voltou
amar é no dia a dia, é no café amargo e que queima a língua
no arroz queimado e no feijão que não cozinhou direito
no jantar com o almoço de ontem requentado
na latrina que precisa de limpeza e vocês já estão cansados
é na rusga sem querer porque estavam estressados
é no pedido de desculpa envergonhado
é no peido que escapa na cama com a pessoa ao lado
amar é quando o assunto acaba
e vocês não sentem medo
cada um sozinho, ao lado, em silêncio
o amor é um bichinho que dorme sossegado e quieto
e que você lembra que um dia ele até subia pelas paredes
mas você é muito trouxa mesmo, criança, por amar depois de uma chupetinha
quem nasceu primeiro?
o ovo ou a galinha?
o amor ou a gozadinha?
tu não precisa amar pra fuder com alguém
nem precisa ser fodido pra querer se afastar
só atraque num cais a depender da maré e das oportunidades em terra
e levante âncora, velas ao vento, se nesse país sobrevier a guerra
lutas e mártires só são bonitos se vistos bem de longe
abre teus olhos criança trouxa
já foi-se o tempo da miopia
esse livro você já leu
mas agora você já tem o papel e a caneta
e o dono dessa história é você
você é quem marca o X onde vão achar o teu tesouro
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