minha loucura espreita
me chamo A Maria das Dores, A Manca, Maria Cambota
a de cara torta, a de boca fofa, a de língua solta
e que chora, chora, chora pelos cotovelos
e que chora, chora, chora pelos cotovelos
e que fala, fala, fala pelos cantos
sigo seguindo como louca
sigo seguindo como manca
ignorada pelos corredores
vejo os doentes que se impacientam
todo paciente tem pressa
a dor aperta
esse aperto no peito
que me pergunto
não sei se passo no cardio
ou no psiquiatra
infarto ou pânico?
escolha a sua fila
de pressas
e de horrores
a cara trava, o olho treme
eu me pergunto se tudo isso vale a pena
eu me pergunto se alguma vez eu tive escolha
se algum dia eu vou encontrar uma saída
dessa ruma de fila,
dessa ruma de receita e de pírulas
eu só sei duma coisa
estresse é doença de gente rica
porque isso que eles chamam de estresse
é o arroz com feijão dos Zés e das Marias
é o pão nosso de cada dia
tão matinal e de rotina
que a gente nem sabia que isso existia
mas descobrimos no dia que matamos ou morremos de raiva
e o tempo passa
a fila aumenta
os médicos nos recebem impacientes
e nós pacientes temos que decifrar os hieróglifos
dos divinos ilustríssimos senhores doutores
que falam uma velha língua sobre papéis de receita
que ninguém gosta nem aceita
nem entende porque sai tão custosa
parece que saúde é um luxo e não uma necessidade
os doutores sobem na torre e não saem mais de lá
e sobram aqui embaixo nós que mancamos
doidos e doídos sobre a terra
com dor e com pressa
com dor e com pressa
com dor e com pressa
ela manca, ela manca
com dor e com pressa
com dor e com pressa
é Maria das Dores, Maria Cambota
ela manca, ela manca
com dor e com pressa
com dor e com pressa
é Maria das Dores, Maria Cambota
#SonsdaVmbrA
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