pergunta a criança perdida nas sombras
"Por que eu choro e sinto tanta raiva?
Queimei o perdão e a vingança
para ver a fumaça voando para o mar.
Restou nas cinzas a justiça
clamando 'vem!' sem parar."
eu te ouvi
lembre-se que tu nunca vai ser abandonado
é assustador, filho, eu sei
dá medo mesmo vislumbrar um caminho ousado
ainda não trilhado...
e é por isso que a mãe aqui
carrega numa mão a criança no colo
e na outra um afiado facão
para abrir os teus caminhos
eu dou na frente e te levo pela mão
você vem atrás
na frente passa o corte
pesado, afiado, certeiro, ritmado
sobe e desce o meu rústico amigo
bruto metálico amigo
brilha a estrela de toda a manhã
passa o corte
passa forte
passa o facão
sobe e desce o meu rústico amigo
bruto metálico amigo
brilha a estrela de toda a manhã
lá vem Dona Dalva
pra te levar no colo
lá vai a Dona Dalva
te guiar pela mão
vem na frente Dona Dalva
abre o caminho
passa o facão
vai comigo Dona Dalva
minha mãezinha preta
minha mãezinha braba
vai na frente
vai como Iansã
Dona Dalva é mãe dura
te acorda cedo de manhã
levanta, criança, muita coisa pa fazê
levanta, toma bença
dia novo já vai nascê
levanta, criança, que eu vou na frente
tu tem muito o que fazê
quem me acorda com carinho e firmeza é Dona Dalva
pro meu dia florescer
laroiêêê
Dona Dalva é mãe amorosa
voz de azeite de dendê
trata o enfermo
dá banho de rosas
brilha no leste
brilha no oeste
cuida quando ninguém mais cuida docê
lai vem
lai vai
a Dona Dalva
numa mão facão de caça
noutra mão a rosa branca
lai vem
lai vai
ela te dá o amor de mãe
lai vem lai vai
água de côco ou pimenta na boca
isso depende de você
lai vem
lai vai
Dona Dalva, mãezinha preta
na sua cabana no pé de serra
me chamou pra tomar café
lai vem
lai vai
com seu facão pra fazer festa
lai vem
lai vai
tem rosa branca no seu jardim
lai vem
lai vai
pisa firme a mãezinha preta
lai vem
lai vem
minha estrela brilha é de manhã
lai vem a Dona Dalva
me acorda cedo
lai vai
com sua voz de dendê
[primeiro esboço: agosto, 2022]
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